São muitos figos para escolher
Em uma das passagens mais memoráveis do meu livro favorito, A redoma de vidro, a personagem Esther (uma espécie de alter ego da autora, Sylvia Plath) utiliza uma metáfora que eu acho perfeita. Para ela, as infinitas possibilidades que temos na vida são como figos em uma figueira, suculentos e atrativos, e, por isso mesmo, impossíveis de escolher.
Nessa analogia, cada fruto da figueira representa uma escolha de vida em potencial: uma carreira de sucesso como jornalista, a realização pessoal com família de margarina, o sonho de ser professora universitária e por aí vai.
Só que são tantos figos, e tão irresistíveis, que ela simplesmente não consegue se decidir por um em detrimento de todos os outros. Como resultado, vê todos os figos apodrecerem, um a um, enquanto ela se perde em tantas possibilidades de vidas não vividas.
Falei que a metáfora era perfeita porque é justamente assim que me sinto. Tenho 36 anos, muitos figos para escolher e um tempo na terra limitado para saborear todos eles. Na dúvida, muitas vezes, acabo sem comer nenhum.
E por que inaugurar uma newsletter com essa metáfora? Primeiro, porque acho simbólico falar do livro mais importante da minha vida no meu primeiro texto por aqui. Segundo, e mais importante, porque foi exatamente assim que me senti enquanto gestava este novo projeto: muitos figos na cabeça, muitas ideias na figueira.
Será que eu quero falar sobre escrita? Ou fazer resenhas de livros? Será que minhas seguidoras e meus seguidores teriam interesse em ler dicas culturais aleatórias, sobre o que andei vendo, ouvindo, sorvendo? E textos autorais, teriam algum apelo? E se eu perder a vergonha e compartilhar minhas crônicas? Será será será será se?
E aí que decidi que dá para falar de tudo isso e mais um pouco. Vou pegar uma grande cesta, balançar a árvore e recolher todos os frutos que caírem. Com sorte, rende um suco gostosinho. A ver.
A princípio, esta cartinha vai chegar à sua caixa de entrada toda segunda, que é para começar a semana com uma boa dose de aleatoriedades, dicas de leitura e todos os blá-blá-blás que eu decidir compartilhar com você.
Os 365 dias de março
Março foi um mês muito intenso por aqui! Finalmente realizei um sonho de anos: ingressar no mestrado em estudos da literatura! Por uma feliz coincidência, o início das aulas caiu no dia do meu aniversário, o que considerei um presente de aniversário e tanto. Fora isso, rolaram eventos mil, com excelentes companhias e boas surpresas.
Também teve o show da Tarja, minha cantora favorita da vida, minha musa, meu ídolo. Já perdi as contas de quantas vezes a vi ao vivo, seja em carreira solo ou no Nightwish.
Mas, dessa vez, teve todo um sabor especial porque o show contou com a participação do Marko Hietala, ex-baixista no Nightwish, que dividia os vocais com ela, e foi simplesmente emocionante vê-los cantando juntos depois de 20 anos (sim, meu primeiro show da banda foi em 2005, estou ficando velha).
Enfim, me esgoelei, pulei, chorei, e voltei para casa pensando que, caramba, é muito bom estar viva! Eu sei, eu já falei o contrário mais vezes do que posso contar. Mas que é, é.
O que ando ouvindo
Com a proximidade do show, eu fiquei monotemática e no meu spotify só deu Tarja. Fiquei ouvindo a playlist com as músicas que possivelmente seriam tocadas sem parar, e foi uma bela trilha sonora para meus treinos de força na academia e minhas longas caminhadas à beira do mar.
Tenho ouvido especialmente a nova parceria entre a Tarja e o Marko, lançada um dia antes do show: Left on Mars. Achei muito boa e, desde então, não parei de escutar.
Na esteira desse revival da minha fase fabizinha-metaleira-pirigótica, voltei a ouvir bastante metal melódico, sobretudo quando estou fazendo musculação.
Um dos álbuns que não saem do repeat é o mais recente da banda Xandria, The wonders still awaiting. Já tinha ficado fissurada quando foi lançado em 2023, mas recentemente me lembrei do quanto havia gostado dele e voltei a escutar.
O que ando lendo
Livros são meu ponto fraco. Amo comprar, amo ler, amo estar rodeada por eles. E um fato peculiar sobre mim é que estou sempre lendo vários livros ao mesmo tempo!
As leituras em andamento da vez são as seguintes:
O homem magro, de Raymond Chandler: minha primeira incursão ao autor mais célebre do noir americano.
Oração para desaparecer, de Socorro Acioli: lindo, lindo, lindo! Apenas leia!
Acima de qualquer suspeita, de Scott Turow: este livro me foi recomendado por um outro livro, com a promessa de ser um “suspense de bater com a cara no poste” do mesmo nível de Sobre meninos e lobos, que amei. Não deu outra: foi para o kindle na hora.
Fatal witness, de Robert Bryndza: eu amo amo um bom thriller e a série da detetive Erika Foster é sensacional! Este já foi traduzido para o português (Testemunha fatal), mas estou lendo no original porque é a edição que está no Kindle Unlimited.
Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida: clássicos nacionais não são muito o meu forte, mas estou ouvindo este em audiobook para o mestrado (para falarmos de folhetins) e até que estou curtindo.
68 contos de Raymond Carver: eu sou apaixonada por contos, e Carver é um contista excelente! Tenho intercalado esse tijolinho com minhas outras leituras e está sendo uma experiência muito boa.
O que ando assistindo
Eu tenho esse projetinho pessoal de tentar assistir ao máximo de filmes do Oscar possível. O meu candidato favorito dessa temporada para melhor filme internacional foi o japonês Dias perfeitos, de Wim Wenders, uma preciosidade imperdível para quem gosta de narrativas reflexivas, introspectivas e contemplativas.
Inclusive, me lembrou um outro filme que amo, Paterson. Além de belo e contemplativo, é imperdível para quem escreve e para quem gostaria de escrever.
Como se faltassem mais atributos, a trilha sonora também é incrível. Nem vou falar muito deste filme, porque acho que rende um texto só para ele, hein?
Concluo este texto como quem oferece uma tigela de figos recém-colhidos: pegue quantos quiser e deguste no seu tempo. E obrigada por embarcar nessa jornada comigo. :)
Algo que escrevi ressoou em você? Tem alguma sugestão de tema para as próximas cartinhas? Sinta-se à vontade para responder este e-mail ou deixar um comentário no Substack.
"Será que minhas seguidoras e meus seguidores teriam interesse em saber o que andei lendo? E textos autorais? Será que teriam algum apelo?" SIM!
Amei o primeiro texto! Gosto bastante da ideia de saber o que você anda vendo e ouvindo, para além dos livros lidos.